04/06/09

FRENTE OESTE - Texto17 - 28 MAIO 2009





LAURA PERMON, A MULHER DO GENERAL JUNOT

J. Moedas Duarte



No ano 1800 Laura Permon, com dezasseis anos, casou com Andoche Junot. Dele enviuvou em 1813. Sobreviveu 25 anos, vindo a morrer em Paris, muito pobre. Porque é que o seu nome é recordado sempre que se fala na Guerra Peninsular?
Com a ascensão de Napoleão ao título de Imperador de França, a velha nobreza do Antigo Regime afundou-se e surgiu uma casta social formada pelos novos funcionários superiores do Estado e por centenas de oficiais militares do Grande Exército e respectivas famílias. Junot foi um exemplo brilhante deste novo tipo de militar. Laura Permon partilhou a sua ascensão, frequentou os salões do poder, acompanhou o marido em muitas das suas missões e de tudo o que viveu e conheceu deixou testemunho escrito. As suas memórias fazem parte de uma obra extensa – cerca de 50 volumes à data da morte, em 1838 – e são de leitura obrigatória para quem queira conhecer a vida mundana da alta sociedade desta época.
Em Março de 1805 Junot foi colocado em Lisboa como embaixador de França em Portugal e sua mulher acompanhou-o. Desta estada deixou ela pormenorizado testemunho em texto disponível em português numa edição recente (2008) da Biblioteca Nacional, com apresentação e notas de José-Augusto França: “Recordações de uma Estada em Portugal, 1805-1806”, que Laura Permon assinou como “Duquesa de Abrantes”, usando o título nobiliárquico atribuído por Napoleão a seu marido.
Como todas as memórias, o conteúdo deste escrito não tem o rigor e a credibilidade de um ensaio de História e deve ser lido com precaução e reserva, cruzando os dados que nos fornece com outros de proveniência diversa.
Ainda assim, o quadro que traçou sobre o Portugal que ela conheceu revela uma atenta e informada observadora, que em muitos aspectos corrobora as descrições de outros estrangeiros que aqui viveram por esta época. Se não poupa adjectivos elogiosos às belezas naturais e à excelência do clima, aplica registo bem contrário quando fala das pessoas e dos costumes. A Corte portuguesa, com sua pelintrice e fatuidade, sai muito maltratada da pena da Duquesa, que não resiste a compará-la com a alta sociedade europeia que ela já conhecia.

“Viajei muito, percorri o Norte e o Sul da Europa, e jamais uma cidade tão estranha, mas tão notável e também tão bonita como Lisboa, se deparou a meus olhos; jamais um céu tão lindo lançou a sua luz sobre ma cidade rodeada por uma natureza que a cumula de maravilhas; mas também jamais, em parte alguma, vi antas dádivas de Deus desprezadas e sacrificadas.”
(…)
“Estas damas do palácio (…) estavam sempre, tal como as vi, sentadas no chão em volta da Princesa [D. Carlota Joaquina] com a qual conversavam, cantavam, comiam, ou então prestavam mutuamente serviço, matando os pequenos insectos que alimentavam na própria cabeça. Mais uma vez não é um conto, EU VI!”

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