21/04/09

IMAGENS DA GUERRA PENINSULAR - TEXTO 12 - 23 ABRIL 2009 - FRENTE OESTE




Monumento em memória de Jacinto Correia,
frente ao topo sul do Convento de Mafra

JACINTO CORREIA,
UM HERÓI POPULAR DE MAFRA


Tenente-coronel Abílio Pires Lousada



Fronteira de Segura - Beira Baixa, 20 de Novembro de 1807. À frente de um exército de 26500 homens, o general francês Andoche Junot invadiu Portugal para conquistar Portugal.

Lisboa, 30 de Novembro de 1807. Junot entra, com o seu exército, em Lisboa.

Lugar de Atouguia, Gorcinhos – Mafra, finais de Janeiro de 1808. Ao final da manhã, o jornaleiro Jacinto Correia, habitante da área, de 46 anos, casado e com filhos, dirige-se, como habitualmente, para casa com o produto do seu trabalho. No caminho, é abordado bruscamente por dois soldados franceses que o pretendem roubar. Jacinto Correia não teme e não cede, segue-se uma violenta luta entre os três homens. O jornaleiro saloio, homem de rija têmpera e habituado ao trabalho duro do campo, habilmente e com raiva, brande a foice roçadora e golpeia mortalmente os dois soldados que o atacaram.
Em pouco tempo, uma força militar francesa detém Jacinto Correia, que é presente a tribunal e julgado num Conselho de Guerra.
Apesar de algumas autoridades locais tentarem o perdão do jornaleiro, o Tribunal empurrou o processo para uma incriminação do réu, que impunha punir exemplarmente.
Em determinada altura do julgamento, porque o jornaleiro apresentava uma atitude de serenidade e desafio, foi-lhe perguntado por Loison, comandante militar francês da região, “se o arrependimento já tinha exercido algum efeito no seu espírito”. A resposta, tão convicta como desconcertante, “se todos os Portugueses fossem como eu, não ficaria um francês vivo”, enraiveceu Loison.
Jacinto Correia foi condenado à morte e fuzilado no campo da Alameda, no topo sul do Convento de Mafra, a 25 de Janeiro de 1808.
Tratou-se de um acto heróico, que correu célere de boca em boca. Junot, temendo que a atitude patriótica do «mafrense» estimulasse ânimos e ódios para provocações futuras, publicou uma semana depois a notícia da execução de Jacinto Correia:

«Um dos vossos compatriotas, Jacinto Correia, convencido de um grande crime, foi condenado á morte; Esta severidade das leis assegura a tranquilidade pública de que dependem as vossas vidas e propriedades» (Gazeta de Lisboa, 1 de Fevereiro de 1808)

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